quinta-feira, 28 de junho de 2012

A Eco-92 se repetiu como fraude

A IMAGEM-SÍNTESE da Rio+20 aconteceu na plenária final, lá pelas 21h de sexta-feira. Enquanto delegados davam seus recados finais antes do discurso de Dilma Rousseff (a Suíça cobrando ambição, o Vaticano defendendo valores da Idade Média e os EUA reforçando que não queriam saber de nada daquilo), um delegado asiático dormia a sono solto no meio da bagunça.
A Rio +20 foi isso, especialmente em seus últimos dias: sonolenta. Nem fracasso, nem sucesso. Apenas um evento que terminou da mesma forma como começou, carente de ideias, premido por uma crise internacional e ainda eclipsado por um golpe de Estado no Paraguai em seus estertores. Sequer ganhou as manchetes dos jornais de sábado. Ainda bem, porque não as merecia.
Terminou com um discurso de Dilma que precisava evoluir muito para ficar ruim. Foi morno até para os padrões da presidente, que cumpriu à risca o roteiro de antiestadista ao falar de crise econômica, botar o dedo na cara dos ricos pelo “tsunami monetário” etc. Acho que ela quis dar uma de ambientalista e reciclou seu discurso no G20 para a Rio +20. Ou, pior, não percebeu que era o mesmo discurso. Como se para ressaltar que a história se repete como fraude, Dilma destacou que a Rio +20 nos deixa “uma agenda de trabalho para o século 21″. Achei até que ela estivesse falando da Rio-92, já que esta sim nos deixou uma agenda para o século 21 (chama-se, exatamente por isso, Agenda 21). A presidente também ressaltou como uma vitória da cúpula um suposto resgate do multilateralismo. Vejamos: uma conferência multilateral é elogiada por seu multilateralismo. A mim parece um argumento circular.
A conferência deixou de legado um documento chocho, “O Futuro que Queremos”, fruto de um acordo apressado e forçado cujo sumo foi todo espremido para que pudesse caber na caixa cronológica definida pelo Itamaraty. Há a esse respeito duas interpretações: o “Earth Negotiations Bulletin”, uma newsletter criada em 92 e cujos editores acompanham em detalhes as negociações internacionais resultantes da primeira conferência do Rio, tem uma visão benevolente em análise publicada hoje. Chama os diplomatas brasileiros de “olímpicos” e diz que eles apostaram alto e ganharam ao forçar o consenso tão cedo numa pauta que seria impossível de consensuar de qualquer forma. Os ambientalistas e a imprensa  brasileira têm visão oposta.
Para mim, a Rio +20 foi uma vitória do século 20 sobre o 21. Da retranca infantil e terceiromundista do G77 sobre a economia verde, a descarbonização, a produção de tecnologia com alto valor agregado. De Hugo Chávez e Raúl Castro sobre José María Figueres e François Hollande. Foi a demonstração final de que o mundo não está preparado para uma transição econômica do porte que a ciência demanda para evitar mais problemas de desenvolvimento e mais colapsos ambientais no futuro. Não é à toa que a atrasada e petroleira Venezuela saiu do Riocentro rindo de orelha a orelha.
Para o Brasil, foram R$ 500 milhões, duas semanas e uma oportunidade histórica jogados no lixo, e sem direito a reciclagem. E a culpa é toda de Dilma.
Sim, de Dilma. O ódio atávico da mandatária por todas as coisas verdes impediu que os setores progressistas do governo brasileiro apitassem no encaminhamento interno e externo da Rio +20. Dilma insistiu em dizer que os resultados da conferência não devem ser olhados pelo retrovisor e que sua pauta é de longo prazo, mas permitiu que o circunstâncias de curtíssimo prazo ditassem sua condução.
Da boca para fora, priorizou a Rio +20; fez birrinha e pediu a cabeça de Brice Lalonde e Ban Ki-moon quando aquele mui diplomaticamente criticou o Brasil e este disse que não estava 100% satisfeito com o documento. Mas não moveu uma palha para transformar o assunto em agenda exclusiva em reuniões bilaterais com outros mandatários. Talvez tivese conseguido trazer Angela Merkel se houvesse. Talvez tivesse conseguido um acordo sobre oceanos para chamar de seu, declarar vitória e calar a boca das ONGs e dos chatos da imprensa se tivesse conversado com jeitinho com Obama. Mas, mais do que isso, se tivesse feito algum esforço para entender o que estava em jogo na Rio +20 (e, justiça seja feita, capacidade intelectual não lhe falta), Dilma poderia ter unido o Basic mais o México em torno da imensa oportunidade que a economia verde representa para esses países, nos quais o custo da transição é pequeno e os lucros potenciais são enormes (vide energias renováveis na China). O Brasil, como reparou o embaixador André Corrêa do Lago, é provavelmente o país do mundo mais adaptável à economia verde. Mas foi puxado para baixo pelos setores mais retrógrados do G77, porque nossos diplomatas não receberam um mandato claro para turbinar a agenda.
Dilma perdeu ainda uma excelente oportunidade de ficar calada ao anunciar a fabulosa quantia de US$ 16 milhões para o Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) e para o combate à mudança climática nos países pobres. A mesma Dilma que uma semana antes emprestara US$ 10 bilhões ao FMI para salvar a Europa e que três anos atrás, em Copenhague, dizia que, para o Brasil, dar R$ 1 bilhão para o combate à mudança climática no Terceiro Mundo “não fazia nem cosquinha”. Decerto a inflação desvalorizou a oferta brasileira.
 No final, nossa presidente perdeu a janela de oportunidade de virar para a novíssima economia o que Lula foi para a erradicação da pobreza — um campeão. Nenhuma surpresa para uma líder que costuma andar por aí chamando energias renováveis de “fantasia”. A fantasia foi a maior derrotada na Rio +20.
FONTE: Jornalista Cláudio Angelo, Folha de São Paulo, http://entrecolchetes.blogfolha.uol.com.br/

segunda-feira, 25 de junho de 2012

"Desenvolvimento Sustentável" fará parte do currículo nas faculdades brasileiras

A partir do ano que vem, a sustentabilidade deve ser incluída no currículo acadêmico de todas as universidades brasileiras. Esse foi um dos compromissos voluntários anunciados na última sexta-feira (22), pelo Brasil, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, Rio+20.

De acordo com o conselheiro do Conselho Nacional de Educação e pró-reitor da Fundação Getulio Vargas, Antônio Freitas Jr., a ideia é que, no futuro, a disciplina seja incorporada também da pré-escola ao ensino médio.

“Não faz sentido ensinar finanças sem ensinar ética ou meio ambiente. Educação superior é o começo, mas tem que ser em todas [as séries]. Incentivo a todos que façam ações. Não é só compromisso financeiro, precisamos de comprometimento dos governos”.

Ele informou que a decisão já foi publicada no Diário Oficial da União na semana passada e que o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, assinou simbolicamente o compromisso durante a Rio+20.

“A sustentabilidade permeia todas as áreas, os enfoques é que são diferentes. Por exemplo, foi descoberto que o gás que sai do motor a diesel causa câncer. Então, um engenheiro mecânico tem que saber muito mais sobre esse assunto. Também tem a ver com economia, pois o assoreamento dos rios tem um custo”, comentou o conselheiro.

Declaração feita pelo WWF Internacional ao encerramento da Rio+20

Com o término das negociações, o Diretor Geral do WWF Internacional Jim Leape emitiu hoje a seguinte declaração final sobre a cúpula Rio +20:

Esta foi uma conferência sobre a vida: sobre as gerações futuras, sobre as florestas, oceanos, rios e lagos que todos nós dependemos para a nossa comida, água e energia. Foi uma conferência para abordar o desafio premente da construção de um futuro que possa nos sustentar. Infelizmente, os líderes mundiais que se reuniram aqui perderam de vista o objetivo da urgêcia.

Com poucos países dispostos a pressionar para a ação, a presidente do Brasil, Dilma Rousseff escolheu por conduzir um processo sem conteúdo sério - em detrimento do planeta. O resultado é uma oportunidade desperdiçada, um acordo que não conduz o mundo na direção ao desenvolvimento sustentável.

A urgência de agir, no entanto, não mudou. E a boa notícia é que o desenvolvimento sustentável é uma planta que tem raízes que crescerão independentemente de fraca liderança política que aqui se viu. Vimos os líderes dos países virem ao Rio de Janeiro, mas não os vimos atuando nas negociações.

Já há várias iniciativas animadoras acontecendo em comunidades, cidades, governos e empresas, trabalhando para o desenvolvimento dos pilares para proteger o nosso ambiente, reduzir a pobreza, e nos levar a um planeta mais sustentável. E ainda precisamos de ações em todos os lugares, de pessoas, vilas, cidades, países, pequenas e grandes empresas, organizações da sociedade civil e movimentos, assumindo a responsabilidade que os líderes mundiais não conseguiram exercer na Rio+20. Devemos redobrar nossos esforços e esperanças de que essas iniciativas ajudem a abrir o espaço político necessário para um processo multilateral que dê resultados, como supostamente a Rio +20 deveria fazer.

Alguns dos grandes compromissos feitos fora das salas de negociações oficiais, no Rio incluíram:

. Governos, bancos, investidores e CEOs defendem a valorização e contabilização do capital natural. Nove bancos, investidores e seguradoras (incluindo a Caixa Econômica Federal, Caisse des Depots, China Merchants Bank, Natural Australia Bank, Standard Chartered + 50 países Botswana, África do Sul, Reino Unido + Unilever, Puma, Dow Chemical) fizeram um apelo coletivo pela valorização e contabilização do capital natural.

· Moçambique - Presidente Armando Guebuza de Moçambique anunciou o lançamento do Plano de Moçambique para uma Economia Verde. O plano compreende as estratégias nacionais para aplicar os princípios da economia verde para o desenvolvimento das cidades, da agricultura, de fontes de energia, por meio do investimento na manutenção e melhoria de seu capital natural, incluindo áreas protegidas terrestre e marinha.
· As Maldivas anunciaram a maior reserva marinha do mundo, composta de 1.192 ilhas, o que deverá ocorrer em 2017.

· O governo britânico anunciou que o Reino Unido será o primeiro país do mundo a exigir que grandes empresas passem a medir a sua pegada de carbono. O sistema fará com que mais de 1.000 empresas meçam suas emissões totais de gases de efeito estufa.

· O Presidente da Indonésia lançou vários e amplos compromissos para alcançar um "futuro sustentável" na Indonésia. Fortalecimento financeiro, político, institucional e a cooperação sul-sul com as principais nações que possuem florestas tropicais são temas-chave desses compromissos.

· Oito dos maiores bancos de desenvolvimento do mundo anunciaram a transferência dos investimentos em construção de estradas para investimentos em transporte público, no valor de US $ 175 bilhões para estimular o uso de ônibus, trens e ciclovias. Esse foi o maior compromisso monetária feito durante a Rio +20 para o desenvolvimento sustentável.

O que o WWF esperava como resultados da Rio +20 e que se compromete a continuar lutando por:

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Esses objetivos devem ser uma evolução dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio voltados para áreas temáticas, tais como alimentos, água, energia e oceanos; sua definição, processo de criação, formas de financiamento para alcance das metas e sua medição, são assuntos que o WWF continuará se dedicando.

Medidas para valorar a riqueza natural. O mundo precisa de indicadores para medir a qualidade do meio ambiente, natureza e biodiversidade e os ecossistemas, em conjunto com os indicadores de desenvolvimento econômico e social ja existentes, respectivamente, PIB e IDH.

Reforma dos subsídios. Como prioridade global, a elaboração de um relatório anual a respeito da revisão de subvenções que conduza à eliminação de até 2020 de todos os subsídios prejudiciais ao ambiente, em particular os subsídios aos combustíveis fósseis.

Governança marinha. Algum progresso foi feito no Rio sobre esta questão, mas ainda precisamos melhorar a governança dos oceanos, incluindo a questão da conservação e uso sustentável dos mares para além das fronteiras nacionais.

Programa Ambiental da ONU mais forte. O fortalecimento do PNUMA deve ser uma prioridade, com o financiamento e autoridade apropriados para proteger o meio ambiente mundial.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Inacreditável!!!

É inacreditável o que a política mal feita faz. Com a idéia geral de reafirmar os compromissos firmados na ECO 92, os países que se denominam "conscientes" deixaram muito a desejar.
Não dá mais para ficar falando em futuro. Parafraseando a cantora Pitty na música Semana que vem: "...o futuro é o presente e o presente já passou..." Não dá mais para esperar que os governantes ensinem as futuras gerações. É a atual geração que tem que tomar atitudes, mudar posturas, evoluir o pensamento. Reciclar, reusar, reutilizar, redestinar, todos esses R's e mais tantos outros dever ter seus sentidos.
Novo conceito de Desenvolvimento Sustentável: conversa pra boi dormir. Ao invés de ficarem discutindo isso, tiveram a oportunidade de efetivamente fazer algo hoje, e mais uma vez, deixaram para a "próxima geração".
Você sabe quem sai perdendo? Quem pagará essa conta ambiental bem extensa? TODOS NÓS, E AGORA.
Fica a charge abaixo e as perguntas acima para que você reflita sobre a nossa responsabilidade de presente e futuro. Afinal, a natureza não pode esperar a RIO+40.


terça-feira, 19 de junho de 2012

A QUESTÃO AGRÍCOLA NA RIO+20

A segunda conferência internacional sobre o meio ambiente e o desenvolvimento, mais conhecida como Rio+20 deverá tratar de 27 eixos considerados fundamentais para que o mundo possa enfrentar os desafios de promover um desenvolvimento sustentável sem destruir o meio ambiente ou esgotar os recursos naturais renováveis. Destes eixos, onze tem relação com a agricultura: segurança alimentar, agricultura e desenvolvimento rural, mudança climática, água, energia, oceanos e zonas costeiras, biodiversidade, florestas, desertificação, pesca e aqüicultura e erradicação da pobreza. O documento base da conferência, produzido pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP) faz uma análise bastante limitada sobre estas correlações e não dá à agricultura o lugar central que deveria ocupar no debate, além de abster-se de constatar os problemas provocados pelo modelo de desenvolvimento agrícola dominante no mundo, conhecido como agricultura industrial.
A agricultura, entendida no sentido amplo adotado pela FAO, inclui os cultivos temporários ou perenes, a pecuária, a pesca/aqüicultura e a exploração florestal. A correlação da agricultura com os dois primeiro eixos citados acima carece de demonstração, mas é preciso lembrar que a agricultura é o maior fator de perda de biodiversidade, de destruição florestal e de desertificação em todo o mundo. Ela também é o maior consumidor de água potável (70%) além de ser o principal agente de contaminação de rios, lagos e aqüíferos. A contaminação química provocada pelo uso de adubos químicos e agrotóxicos também é um fator importante na destruição do meio ambiente nas zonas costeiras, em particular na foz dos rios onde cria imensas áreas chamadas de desertos marinhos afetando também a pesca. A agricultura tem forte relação com a questão da produção de combustíveis (álcool e biodiesel em tempos mais recentes e carvão e lenha desde muito tempo). Do ponto de vista das mudanças climáticas a agricultura é responsável por 18% das emissões de gases de efeito estufa (GEE), mais do que a queima de combustíveis nos transportes. Se combinarmos este efeito direto com as emissões provocadas pelo desflorestamento (em grande parte provocada pela expansão das áreas agrícolas) e outras emissões ocorridas em outras etapas da cadeia alimentar, chegamos acerca de 50% de emissões de GEE. Finalmente, é preciso lembrar que a agricultura concentra a maior parte da população em extrema pobreza no mundo e que não existe modelo de desenvolvimento urbano nos tempos modernos capaz de absorver este contingente.
Outros temas da conferência têm relação indireta com a agricultura. A questão da saúde, por exemplo, tem a ver com o modelo alimentar derivado da agricultura industrial e que tem provocado verdadeiras pandemias de obesidade, diabetes e problemas cardíacos, além do envenenamento por agrotóxicos e dos efeitos deletérios provocados pelo consumo de hormônios e antibióticos amplamente empregados na moderna criação animal.
A agricultura industrial tem outros efeitos negativos sobre os recursos naturais renováveis como os solos. Desde a segunda guerra mundial aproximadamente 2 bilhões de hectares de solos potencialmente agricultáveis no mundo já foram degradados, mais de 22% de toda a área disponível para cultivos, pastagens e florestas. A degradação química dos solos devido às praticas agrícolas é responsável por 40% das perdas nas áreas cultivadas.
Este modelo agrícola tem outro calcanhar de Aquiles, a sua dependência de recursos naturais não renováveis como petróleo, gás, fosfatos e potássio. A exaustão das reservas mundiais de petróleo já se faz sentir nos custos crescentes deste combustível. As reservas de gás têm previsão de alcançar seu pico de produção em 2025. As de fósforo já passaram por este pico e as de potássio devem alcançá-lo em mais 20 anos. Os custos de produção no modelo da agricultura industrial, além das perdas das áreas cultiváveis, deverão trazer de volta o fantasma da fome endêmica em escala não vista desde o início do século vinte. Na atualidade, o mundo produz comida suficiente para alimentar os mais de 7 bilhões de habitantes do planeta e a existência de mais de um bilhão de famintos se deve a problemas de pobreza e não de disponibilidade, mas no futuro próximo haverá carência absoluta de alimentos se o presente modelo produtivo não for radicalmente alterado.
Frente a este quadro de crise profunda que pode levar a terríveis problemas sociais e instabilidade política em muitos países um grupo de entidades da sociedade civil elaborou uma proposta para a Rio+20 intitulada “Tempo de Agir”. O documento disponível no site http://aspta.org.br/category/documentos/ aponta para um novo modelo de agricultura baseado na produção familiar empregando as práticas da agroecologia.
A agroecologia é definida como o manejo integrado dos recursos naturais (solo, água e biodiversidade) sem uso de insumos externos industriais. Este tipo de sistema de produção busca imitar os ecossistemas naturais de tal forma que eles se caracterizam por um ato grau de diversidade. São policulturas integradas com criações animais e com a vegetação natural. Este grau de diversidade permite que operem uma série de interações positivas entre os vários componentes do sistema e resulta em produtividades totais mais elevadas do que em qualquer monocultivo no sistema agroindustrial.
A agroecologia é econômica no uso de água e de energia e, além de não emitir GEEs, promove uma forte absorção de carbono. O sistema não tem efeitos contaminantes para águas, solos, produtores e consumidores e promove uma dieta saudável. Os críticos mal informados sobre estes sistemas dizem que suas produtividades são baixas e que adotar a agroecologia obrigaria a aumentar a área cultivada e, portanto, aumentar o desmatamento. Pesquisas da FAO, da Univesidade de Essex e da Academia de Ciências dos estados Unidos, para citar apenas alguns estudos, indicam que os sistemas agroecológicos têm índices de produtividade comparáveis aos convencionais e que os preços superiores cobrados pelos produtos vendidos como orgânicos não se devem a custos de produção superiores ou produtividades inferiores, mas a uma relação de oferta e demanda do mercado e aos custos de comercialização dos orgânicos. Ambas as questões podem ser resolvidas como o aumento da produção agroecológica (orgânica), garantindo uma oferta de produtos de qualidade a preços mais baixos.
A questão mais importante a ser notada na produção agroecológica é a sua demanda de conhecimentos técnicos e de mão de obra. Diz-se que a agroecologia é “knowledge intensive” enquanto a agricultura industrial é “input intensive”. A questão do conhecimento na agroecologia deriva do fato da sua busca de grande diversificação na estratégia de mimetizar os sistemas naturais. Isto implica na necessidade de se procurar um desenho produtivo específico para cada propriedade e isto não se faz sem métodos de pesquisa que integrem o agricultor como experimentador. A questão da mão de obra não é apenas relativa às limitações de uma mecanização dos sistemas produtivos quando os mesmos são muito diversificados, mas à exigência de cuidados e informação que limita a eficiência do trabalho assalariado. Tudo isto resulta no fato de que a agroecologia opera em condições ideais em sistemas produtivos da agricultura familiar de pequena escala.
Para países como os Estados Unidos onde o emprego agrícola é inferior a 4% do emprego total e que tem menos de dois milhões de agricultores familiares, adotar a agroecologia seria (será) dramático, pois necessitarão de gerar uma nova classe de camponeses quando o conjunto das crises acima referidas destruir a sua agricultura convencional. No Brasil, apesar dos descaminhos de uma reforma agrária sempre feita à “meia boca” ainda temos perto de 4,5 milhões de agricultores familiares e potencial para mais 10 milhões capazes de adotar a agroecologia como forma de produção. Isto poderá acontecer de forma dramática pela mera força das crises que assolam a humanidade ou de forma controlada e suave se as necessárias políticas públicas forem adotadas. Dado o gravíssimo problema de pobreza mundial e nacional o fato de que os sistemas agroecológicos sejam demandadores de mão de obra não é um problema, mas uma solução, pois vão permitir que um enorme contingente de excluídos viesse a integrar-se na sociedade de forma produtiva e não assistencial.
Dada a total falta de compromisso dos governos da maior parte do mundo com as exigências de mudanças drásticas na forma como o mundo produz, consome e se relaciona com a natureza, não podemos esperar muito da Rio+20 mas o que os signatários do manifesto “Time to Act” pretendem é despertar a opinião pública e continuar um embate nos planos internacional e nacionais após a conferencia.
Fonte: Associação Brasileira de Agroecologia, por Jean Marc von der Weid - Coordenador do Programa de Políticas Públicas da AS-PTA Agroecologia e Agricultura Familiar.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

ESPERAR E DESESPERAR

ArtA conferência que começa hoje no Rio tem algumas propostas e muitos lamentos. Muita gente espera solução para o aquecimento global. Alguns querem urgência em proteger espécies ameaçadas ou profunda discussão sobre floresta. Nada disso vai acontecer. Tanto as mudanças climáticas, como biodiversidade e floresta têm fóruns próprios na ONU e é neles que serão buscados os acordos.
O que sobra para discutir? O tema lançado na Conferência de Estocolmo, em 1972, ganha o topo da agenda: desenvolvimento sustentável. Definido à época como desenvolvimento que nos garante recursos para a sobrevivência, sem ameaçar as gerações futuras, passa por novo debate. Segundo notícias de Nova York, onde houve a última reunião, os países estão discutindo ainda nova definição. Até o momento, têm 25% do texto. À definição vai ser anexada preocupação de inclusão social. Sustentável é desenvolvimento que abre mais empregos verdes.
Outro tema a ser debatido é economia verde. De um lado, haverá gente achando necessário colocar preço nos serviços ambientais. De outro lado, a natureza não é mercadoria. Sem preço nos serviços de um rio ou mesmo da mata como pedir indenização à empresa que o destrói? O problema central é financiamento de projetos. Em 92, se empacou aí. Escandinavos queriam 1% do PIB dos países desenvolvidos para projetos no Terceiro Mundo. A Alemanha saltou fora, tinha que soerguer o lado oriental. Agora é a crise econômica na Europa e nos EUA.
Meu palpite é o de que vai se chegar à definição ampla de desenvolvimento sustentável e que haverá promessas de financiamento, sem compromissos rígidos no horizonte imediato. Num período em que os estados se enfraquecem e os governos tremem de medo, o único caminho é o avanço da sociedade. A Rio+20 pode ser sucesso como foi a Rio+92. Ela funcionará como espécie de alerta e quase todos os nomes que participam dela vêm para dizer que é hora de mudar.
Fonte: Fernando Gabeira, jornalista, Especial para o Jornal Metro, 13/06/2012

quarta-feira, 13 de junho de 2012

A Rainha de Copas chegou ao Rio

A primeira vez que eu ouvi a expressão “bode na sala” aplicada a uma negociação internacional foi em 2002, durante a Rio+10, em Johannesburgo. O ambientalista paulista Rubens Born usou-a para ilustrar a atitude dos Estados Unidos na conferência. Os americanos tentavam armar um grande retrocesso nos chamados Princípios do Rio, um conjunto de 27 diretrizes acordadas na Eco-92 que incluíam as chamadas responsabilidades comuns, mas diferenciadas (a conta maior da preservação do planeta deve ser paga pelos ricos). Segundo Rubinho, os EUA iriam bater o pé no retrocesso até o último minuto e, quando finalmente cedessem, o não retrocesso seria comemorado no final como um grande avanço.
Em biologia evolutiva isso tem até um nome: teoria da rainha de copas, ou rainha vermelha. É uma referência à célebre frase da personagem de Lewis Carroll, que em determinado momento explica a Alice seu mundo bizarro: “Aqui a gente corre para não sair do lugar”.
Dez anos depois, a Rainha de Copas está de volta, tal e qual. Os países ricos especialmente aqueles situados entre o Rio Grande e o Lago Michigan, tornam a investir contra as responsabilidades comuns, mas diferenciadas. Criativo, não?
O mundo mudou muito nestes dez anos desde Johannesburgo, e mais ainda desde a Rio-92. Como disse ontem o chanceler Antônio Patriota numa sonolenta entrevista coletiva, “a periferia virou centro”; os países que eram em 92 o rebotalho do planeta hoje dão as cartas. A China recebe ligações da França pedindo dinheiro. O Brasil empresta ao FMI. Os emergentes consomem recursos naturais a rodo, e ao passivo ambiental fica cada vez mais no ombro dos mais pobres. Por isso mesmo, o mundo desenvolvido não deixa de ter razão quando pede a revisão dos princípios do Rio para incluir os emergentes na fatura.
O lado de cá do equador, porém, acha, também com razão, que flexibilizar os princípios é abrir uma cunha para que os ricos corram do restaurante alegando indisposição e deixem TODA a conta na mão do ex-Terceiro Mundo.
Qual é a solução? Simples, comissário: meter outro bode na sala, mais gordo e mais chifrudo que o do oponente. Foi exatamente o que o G77 (bloco que congrega os países em desenvolvimento) fez. O grupo enfiou no texto de negociação da Rio +20 uma exigência para que os países desenvolvidos contribuam com US$ 30 bilhões por ano ao desenvolvimento sustentável. Os ricos obviamente estão dando risadas, especialmente na UE, onde US$ 30 bilhões por ano em dinheiro novo viriam a calhar para evitar probleminhas técnicos menores, como o fim do euro.
Esse balé de caprinos tende a se arrastar até o dia 20, quando num gesto magnânimo os grandes estadistas do mundo decidirão abrir mão de suas posições arraigadas. Os bodes sairão da sala, e os líderes mundiais comemorarão o grande avanço. Quem olhar bem para o recinto, porém, perceberá não apenas que a sala estará vazia, mas também que os bodes comeram o carpete.

Fonte: Folha on line, Claudio Angelo: repórter da sucursal de Brasília da Folha.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Você está por dentro das questões ambientais ???

Você sabe o que é a Rio+20? E empregos verdes, já ouviu falar? Sabe enumerar os três pilares do desenvolvimento sustentável? Para não ser bombardeado pelo jargões, faça esse quiz e veja se você está realmente antenado com os principais temas que serão discutidos nos próximos meses.

Teste seus conhecimentos sobre as questões ambientais, acessando o link:
Fonte: Folha de São Paulo

terça-feira, 5 de junho de 2012

Sustentabilidade é a ordem hoje e na Rio+20

Dia Mundial do Meio Ambiente é comemorado em meio às discussões da Rio+20, que começa dia 13 e tem a missão de reduzir a pobreza
A uma semana do início da Rio+20, as comemorações do Dia Mundial do Meio Ambiente ganham o tom do tema principal da conferência: sutentabilidade.
Ontem, dia 04/06/2012, a top Gisele Bündchen, embaixadora das Nações Unidas para o Meio Ambiente, plantou uma das 50 mil árvores que simbolizarão as comemorações da data, na Quinta da Boa Vista, na zona norte do Rio de Janeiro/RJ.
O evento faz parte do Green Nation Fest, que integra o calendário de atividades paralelas da Rio+20. De acordo com Edmilson Dias de Freitas, professor do Departamento de Ciências Atmosféricas do IAG-USP e coordenador da equipe que reuniu material sobre o tema desde a Rio92, um dos principais desafios do encontro será alinhar a manutenção do crescimento e a redução das diferenças sociais.  
"O conceito de economia verde que será discutido é baseado na ideia de que você tenha crescimento, mas que ele reduza as diferenças sociais. A questão da erradicação da pobreza estará muito presente nas discussões. O crescimento deve ser feito com base no PIB, mas não de forma exploratória como foi feito antes, mas de maneira consciente, com recursos renováveis, até porque eles são finitos."
Para Freitas, grande parte do sucesso da empreitada depende de ações governamentais. Atentos a essa necessidade, líderes de 102 países que já confirmaram presença no evento devem discutir modos de garantir a sustentabilidade por meio de uma governança global.
Freitas alerta, no entanto, que países como o Brasil devem mudar a mentalidade, uma vez que é inviável garantir a sustentabilidade e utilizar o incentivo ao consumo para manter a economia
aquecida. "Não dá para elevar todos a um padrão altíssimo. A ideia é aumentar o padrão para quem está no limite inferior do sistema."
Fonte: Jornalista Patrícia Guimarães, Jornal Metro, São Paulo, 05/05/2012

segunda-feira, 4 de junho de 2012

A água que bebemos - Bacias hidrográficas no RS recebem dejetos produzidos por 6,5 milhões de gaúchos

Bacias hidrográficas no RS recebem dejetos produzidos por 6,5 milhões de gaúchos Mauro Vieira/Agencia RBS
Pássaros vivem em meio a lixo a céu aberto               Foto: Mauro Vieira / Agencia RBS
Em apenas 39 quilômetros de curso, o Rio Gravataí condensa o trajeto da vida à morte imposto aos rios gaúchos pelo descaso com o esgoto e as águas. Ele nasce cristalino, em santuários naturais entre Glorinha e Santo Antônio da Patrulha.

No seu trecho inicial, sustenta 37 espécies de anfíbios, dá de beber a capivaras, jacarés, antas e macacos e abriga os últimos cervos-do-pantanal do Estado.

Depois, vai sendo assassinado quilômetro após quilômetro. Transformado em principal cano de esgoto de uma população de 1,2 milhão de pessoas, agredido por resíduos industriais e dessangrado pelas lavouras, chega ao fim da sua jornada escuro, fétido, sem vida.

O Delta do Jacuí, seu desaguadouro, é uma espécie de necrotério de rios, onde o Gravataí se reúne a um punhado de moribundos companheiros de sina. Em 2010, quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) elegeu os cursos de água mais ameaçados do país, para analisá-los no estudo Indicadores do Desenvolvimento Sustentável, nada menos do que três rios que desembocam no Delta apareceram entre os 11 considerados mais críticos: o Gravataí, o Sinos e o Caí.

A situação mais alarmante é a do Sinos, rio que serve de cloaca a munícipios como Canoas – ranqueada em um estudo recente do Instituto Trata Brasil como a oitava cidade com pior saneamento do país, entre 81 municípios com mais de 300 mil habitantes. No estudo do IBGE, foi calculada a chamada Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO), a quantidade de oxigênio necessária para degradar a matéria orgânica presente na água (oriunda do esgoto doméstico, principalmente).

O Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) estabelece um limite de 5 miligramas por litro para as águas da classe do Sinos e do Gravataí usadas no abastecimento público. Em 2005, o Sinos chegou a um DBO médio de nove mililitros.

— Quatro já acende o sinal amarelo. Mas, quando passa de cinco, a situação é crítica — diz o biólogo Clebes Brum Pinheiro, da Fundação Estadual de Proteção Ambiental.

É desses rios em agonia e do Guaíba – no qual desembocam nove bacias hidrográficas transformadas em desaguadouro da maior parte do esgoto produzido por 6,5 milhões de gaúchos – que sai a água que bebemos.

O coordenador do Programa de Pós-graduação em Recursos Hídricos e Saneamento da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Carlos André Bulhões Mendes, estima que, por falta de preocupação com o saneamento, 12 mil litros de esgoto sejam despejados por segundo nos rios que alimentam o Guaíba – 1 bilhão de litros de dejetos por dia.

Transformar esse manancial contaminado em água potável, mostram estudos, sai mais caro do que custaria dar um destino apropriado ao esgoto. E o resultado final levanta dúvidas. Jogados sem tratamento nos recursos hídricos, os dejetos contêm substâncias que não são eliminadas da água.

A imundície também servirá de combustível para a proliferação das algas que conferem sabor ruim à água fornecida na Capital. E essa é só uma parte dos efeitos do riocídio cometido pelos gaúchos.

— Se os peixes não morrem, ficam contaminados. Na lavouras, é comum fazer a irrigação com água poluída. E há ainda a multiplicação das áreas impróprias para banho — lista o presidente-executivo do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos.

Guardião de uma das nascentes do Gravataí, Noederci da Silva Santos, 56 anos, lamenta que não se reproduza em todo o curso do rio o capricho que ele dedica à Fonte Imperial, em Santo Antônio da Patrulha. Ele não crê que o líquido da torneira é o mesmo que um dia saiu da fonte.

— Em Porto Alegre a água tem gosto. Como pode? Olha como ela sai limpa daqui — observa o servidor público.

Saiba mais: Confira a situação dos rios no Estado em http://www.clicrbs.com.br/pdf/13537323.pdf

 
Fonte: Francisco Amorim | Itamar Melo - ZERO HORA - 04/06/2012

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Sustentável na Prática

Entre o fato de ser o principal evento mundial deste ano sobre sustentabilidade e a eficácia de suas ações, existe uma grande distância.
Estão divididas as opiniões sobre o impacto da Rio+20, de 20 a 22 de junho de 2012, na cidade do Rio de Janeiro: tem gente que acredita muito, mas também tem quem esteja prevendo retrocessos nas negociações globais. 
Quase metade dos empresários ouvidos em uma pesquisa da consultoria Deloitte acredita que a conferência vai contribuir para acelerar as discussões sobre práticas sustentáveis. Ao mesmo tempo, 45% aposta na falta de mudanças significativas.
Da teoria à prática, empresários sugerem a necessidade de estabeler metas claras a serem cumpridas e a definição de sanções legais a países e empresas que não cumprirem as metas acordadas no evento.
Propostas como aumentar o envolvimento com os temas da sustentabilidade por parte das pessoas, dos governos e das empresas, criação de órgãos supranacionais para tratar da sustentabilidade e estabelecimento de protocolos entre as nações são propostas que visam transformar as discussões da Rio+20.
Quanto ao impacto na gestão de empresas, as sugestões são: adoção de novas e mais modernas tecnologias, implementação de certificações e auditorias, racionalização do uso de recursos naturais e necessidade de regulamentação eficiente na área ambiental.
No Brasil, o estudo foi realizado com 108 organizações, de todos os portes e setores, que faturam juntas R$ 700 bilhões, cerca de 17% do PIB brasileiro em 2011.

Fonte: Jornalista Maria Isabel Hammes, Informe Econômico, ZERO HORA, 01/06/2012